Encontro

O dia estava frio e nos sentamos pra tomar um chá, aproveitei a oportunidade para esclarecer algumas coisas.
Eu não entendia o comportamento desumano da humanidade, também não entendia porque mesmo não gostando de velas, terços, santos e gritos me sentia tão privilegiada, talvez seja  por eu não acreditar que precisasse de tudo isso para chegar até Ele. Era só falar ora essa? (como agora)

Não entendia tanta formalidade diante de alguém que nos mostrava a verdade através de parábolas (através da simplicidade ao contar uma história), essa gente toda dificulta muito as coisas e com isso acabam impedindo outras pessoas de Te conhecer, complicação desnecessária (resmunguei).

Pedi desculpas (acho que pedi) mas sempre achei meio teatral usar certas roupas, proibir outras, sendo que muitas das vezes o verniz está brilhando por fora e o mofo exalando por dentro. Nunca fui de falar o que não penso, sinto, vivo, ia mentir agora pra que?
Despesa inútil com roupas, frases decoradas, encenadas, e pra achar a expressão certa então?
Quanta trabalheira, sendo que a transformação ocorre de dentro pra fora, não de fora pra dentro, você precisa viver para testificar, to errada?

Minha religião é conversar com Ele a qualquer hora sem cerimônia, (talvez seja por isso que Ele vive em minha casa) é pedir conselhos, acreditar que o hoje ruim é aprendizado e preparação para um amanhã melhor, é sorrir sem motivo, é alcançar paz na guerra, é ser verdadeiro,saber que sou falho e por isso não exigir perfeição dos outros, é ser grato, é pedir perdão, correr para os seus braços na aflição e na comemoração, é ser quem sou com qualquer pessoa (não ter dois pesos e duas medidas), o resto é conversa fiada.

Disse que ainda sonhava em ter uma árvore lilás, como pode isso depois de tantos anos? (acho que vi um leve sorriso em sua face).
Ele não falava muito, eu só ouvia o barulho do chá tomado em grandes goles.
Disse a Ele que tinha medo de descolorir, ficar opaca, sem graça com o passar dos anos, não na imagem claro, (envelhecer é inevitável) mas na alma.

Ele ouvia calmamente meu diálogo-monólogo com uma serenidade perturbadora, mas seus olhos respondiam a todas as minhas sandices.
Se despediu como de costume, em silêncio, passou pela porta e foi como se Ele nunca tivesse saído, ainda sentia seu olhar sobre mim.

"Sei que seus olhos sempre atentos permanecem em mim." 

Música: Deus de Promessas - Toque no Altar